Por surpreendente que pareçam, esses tipos de pecados mais "vistosos" aos olhos humanos não chegam nem perto do pior de todos os pecados: o orgulho!
Antes de provar por que o orgulho é o pior tipo de ofensa a Deus e ao próximo, quero deixar bem claro que os exemplos citados são pecados sim, só que não alcançam a perniciosidade do orgulho, considerando-se o cometimento de plena consciência, isto é, quando o agente atua sabendo o que está fazendo.
Vejamos logo, de cara, o que diz a Palavra de Deus:
"Exterminarei o que em segredo caluniar seu próximo. Não suportarei homem arrogante e de coração orgulhoso" (Salmo 101(100), versículo 5).
"Deus resiste aos soberbos [orgulhosos], mas dá sua graça aos humildes" (Tiago 4, 6).
É óbvio que alguém que intencionalmente rouba, que sabe que é errado e continua a roubar até o fim da vida, sem arrependimento nenhum, provavelmente não encontrará graça diante de Deus. Não que o Senhor não seja sempre misericordioso. Não! O que há não é um defeito na misericórdia divina, mas sim uma contumácia (teimosia), insistência do homem em permanecer sempre no erro, no pecado. Como Deus criou o homem com o livre-arbítrio, ele respeita a decisão de cada um, pois, se não a respeitasse, verdadeiramente não amaria o homem, pois faria dele uma marionete, conduzindo-o "à força" para o bem, o que é, em si, uma contradição, e contradição não há em Deus.
Ocorre que, se esse ladrão que, por exemplo, roubou fortunas, arrepender-se de verdade, no mesmo instante, Deus já o perdoou e lhe garantiu o Céu, pleno, cheio de graça, o mesmo estado de graça no qual se encontram todos os santos, como São Francisco de Assis, só para citar um.
"Ah, Álvaro, não é possível! Você quer dizer que alguém que fez o mal a vida toda e se arrependeu (vá lá que seja de verdade!) tem a possibilidade de usufruir o Céu como qualquer santo ?!"
A esta pergunta que poderia ser feita por alguém, deixo simplesmente Jesus responder:
"Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: 'Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!' Mas o outro o repreendeu: 'Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício ? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum.' E acrescentou: 'Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!' Jesus respondeu-lhe: 'Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso'." (Lucas 23, 39-43).
Não seria necessário escrever mais nada, mas vamos lá, ver a maldição do orgulho!
Nesta minha caminhada, desde o meu primeiro encontro com Cristo, nos dias 19 e 20 de agosto de 2000, deparei-me com situações marcantes, relativas ao que escrevo agora:
Vi pessoas participantes de grupos de oração ou de comunidades sofrerem perseguições, injúrias, maledicências, desprezo, rejeição, desamor porque cometeram os ditos "pecados vistosos", aqueles citados no primeiro parágrafo deste texto, por exemplo. E toda essa repulsa anti-evangélica, na maioria das vezes, partiu de pessoas tidas como "santas, justas, consagradas!"
Fico imaginando se Jesus faria o mesmo.
Como foi que Jesus agiu com a mulher descoberta em adultério (João 8, 1-11) ? Ele jogou pedra ? Ele achou justo que os outros a apedrejassem ? Não! Sabiamente, ele a livrou da morte, da ira dos tidos como "justos"! Aliás, mandou que eles olhassem para si mesmos e vissem que também eram pecadores, já que o orgulho daqueles algozes os impedia de se considerarem como tais.
Aí está o orgulho: Não se vê o "tamanho" do próprio pecado, mas se considera "imenso" o do outro! Nada mais enganador! Nada mais diabólico!
Por isto é que "Deus resiste aos soberbos [orgulhosos], mas dá sua graça aos humildes" (Tiago 4, 6). O orgulhoso não permite que a graça de Deus o alcance, e Deus respeita essa decisão. O pecador humilde arrasta para si toda a misericórdia divina, que "alveja" sua alma, que o santifica.
Veja o exemplo que Jesus usou para mostrar como é a misericórdia divina: Lucas 15, 11-24 (A Parábola do Filho Pródigo).
Bastou o filho que havia abandonado a Casa do Pai arrepender-se e começar a voltar para o Pai, que este, "movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou" (Lucas 15, 20).
Pergunta: O Pai disse ao filho, ainda ao longe, alguma das frases abaixo ?
"Eh, rapaz, quero ver se você muda mesmo! Torrou parte da minha fortuna e agora vem de cara lisa ?" Ou então: "Eh, sujeito, vai pra roça, trabalhar com os servos, antes de eu pensar em deixar você entrar em casa de novo!" Ou ainda (pelo menos!): "Olha, tudo bem, mas vá tomar um bom banho porque esse fedor de porcos tá demais!"
Foi assim que o Pai fez ? Foi esse tipo de condição que o Pai impôs para acolher o Filho ?
De jeito nenhum!
O filho estava "podre de fedor", não só porque estava trabalhando com porcos e disputando na lama as bolotas que jogavam a esses animais, mas sobretudo pelo seu pecado.
Mas o Pai não quis nem saber: "movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou" (Lucas 15, 20).
Na verdade, o Pai nem respondeu ao que o filho tinha decorado para dizer ("Meu Pai, pequei contra o céu e contra ti [...]"). Foi logo se voltando aos servos e mandando que eles vestissem o filho e preparassem um banquete. Sabe por quê ? Porque ao Pai, a Deus, que é a misericórdia em pessoa, não interessam as justificativas, as explicações. Ele quer seu filho: eu e você, pecadores que se reconhecem pecadores, que não barram a graça do perdão, da misericórdia, do amor, com o maldito orgulho!
Pecadores sim, mas que confiam na misericórdia de Deus porque já experimentaram de verdade este Amor, porque já viram bem fundo naqueles belos olhos de ternura o aconchego do perdão!
Que belos olhos de amor tem Jesus!
Como é triste ver irmãos em Cristo afastarem-se de outros que não participam mais do grupo de oração.
Lembro-me do que disse um padre de uma Nova Comunidade numa pregação: "No quadrante seguinte, nem aparecem mais os nomes daqueles que saíram do grupo, mas estes nomes deveriam estar no topo da primeira folha do quadrante, pois são os que deveriam ser mais lembrados".
Como não combina nem um pouco com o Evangelho achar orgulhosamente que estando no grupo ou na comunidade, garantida está a "santidade", e que aos "de fora" resta a impiedade!
Tenho visto tanta gente trilhando o caminho da santidade sem estar em grupo ou comunidade!
Por exemplo: Uma mãe de família que era bem farristazinha quando solteira e que hoje, casada, com filhos, suporta no Amor os desafios de ter um marido imaturo, que gosta de beber de vez em quando, o qual não partilha de modo justo o fardo do lar! Essa jovem mãe é paciente, não tem ataques histéricos, não vive murmurando, nem colocando o marido "na parede" para ele agir de outro modo. Sabe o que ela faz ? Vive o Evangelho: simplesmente ama! E muita gente não acreditava que ela seria assim quando casou grávida. Mas, como diz a Palavra: "O Espírito sopra onde quer" (João 3, 8), e não somente nos grupos de oração ou comunidades.
Que lição de amor para o orgulhoso!
Uma vez ouvi de um fundador de uma Nova Comunidade, numa pregação para seus membros: "Vocês não deveriam se escandalizar com os pecados que alguns membros da comunidade cometem. Deveriam se escandalizar é com a falta de misericórdia que vocês têm com esses irmãos!"
Deus abençoe você!
Álvaro Amorim.
Imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Parábola_do_Filho_Pródigo
Nas citações desta obra ou de parte dela, inclua obrigatoriamente:
Autor: Álvaro Amorim, em http://anunciodaverdade.blogspot.com
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4 Comentários:
Muito bom artigo. sempre profundo e lúcido. Parabéns.
Caro José Nilson,
Desde aquela Reciclagem que fizemos juntos no Shalom, vi que você é um homem de Deus, livre!
Deus o abençoe sempre!
Não existe pecadão pior e nem pecadinho . Existe sim, pecado. O que é então pecado?
No Grego é amartia. Derivado de uma raiz que indica "errar o alvo", "fracassar". Trata-se do fracasso em não atingir um padrão conhecido, mas antes, desviando-se do mesmo. Essa palavra, porém, veio a ter também um significado geral, indicando o princípio e as manifestações de pecado, sem dar qualquer atenção a seu significado original. A soberba é um dos frutos desse pecado, e tudo que é contrário a vontade moral de Deus, é pecado. Por isso que a Bíblia em Romanos 3.23 diz que: Todos pecaram e destituidos estão da glória de Deus.
O que você acha?
Todos nós pecamos e merecemos o julgamento de Deus. Deus Pai enviou o Seu único Filho para satisfazer o julgamento por aqueles que creem nEle. Jesus, o Criador e eterno Filho de Deus, viveu uma vida sem pecado e nos ama tanto que morreu pelos nossos pecados, tomando sobre Si o castigo que nós merecemos, foi enterrado, e ressuscitou dos mortos, de acordo com a Bíblia. Se você realmente crê e confia nisso de coração, e escolher receber a Jesus como o seu único Salvador, declarando "Jesus é o Senhor", você será salvo do julgamento e passará a eternidade com Deus no céu.
Caro Wanderley,
Existe uma gradação na gravidade da culpa. É bem fácil verificar esta realidade: Quando um filho nosso faz uma travessura e quebra um objeto de casa é bem diferente do que quando ele bate no colega da escola. É óbvio! Ambas são faltas, mas a última é mais grave. Assim acontece conosco em relação a Deus. Veja o que ensina a Igreja Católica em seu Catecismo:
"§1860. A ignorância involuntária pode diminuir ou até escusar a imputabilidade de uma falta grave, mas supõe-se que ninguém ignora os princípios da lei moral inscritos na consciência de todo ser humano. Os impulsos da sensibilidade, as paixões podem igualmente reduzir o caráter voluntário e livre da falta, como também pressões exteriores e perturbações patológicas. O pecado por malícia, por opção deliberada do mal, é o mais grave."
Mas nunca se esqueça disto: "Deus é amor" (I Jo 4, 8).
Deus abençoe você!
Álvaro Amorim.
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