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Papa Francisco fala sobre temas polêmicos

Você quer saber o que pensa o Papa Francisco sobre temas polêmicos ?
Clique aqui e assista à entrevista que ele concedeu ao repórter Gerson Camarotti, da Globo News.
Deus abençoe você! Álvaro Amorim.
Imagem: http://www.blogdoconsa.com/2013/04/a-gargalhada-do-papa.html. 
Nas citações desta obra ou de parte dela, inclua obrigatoriamente: Autor: Álvaro Amorim, em http://anunciodaverdade.blogspot.com

Fernão Capelo Gaivota

Diante do novo de Deus em minha vida, diante do novo do Espírito na Igreja, com a eleição de Francisco, a quem dedico este post, reproduzo um trecho de um livro que ficou em minh´alma e que emerge forte agora: "Fernão Capelo Gaivota", do aviador Richard Bach.

"Era de manhã e o novo Sol cintilava nas rugas de um mar calmo.
A dois quilômetros da costa, um barco de pesca acariciava a água. Subitamente, os gritos do Bando da Alimentação relampejaram no ar e despertaram um bando de mil gaivotas, que se lançou precipitadamente na luta pelos pedacinhos de comida. Amanhecia um novo dia de trabalho.
Mas lá ao fundo, sozinho, longe do barco e da costa, Fernão Capelo Gaivota treinava. A trinta metros da superfície azul brilhante, baixou os seus pés com membranas, levantou o bico e tentou a todo custo manter suas asas numa dolorosa curva. A curva fazia com que voasse devagar, e então sua velocidade diminuiu até que o vento não fosse mais que um ligeiro sopro, e o oceano com que tivesse parado, abaixo dele. Cerrou os olhos para se concentrar melhor, susteve a respiração e forçou... só... mais... um... centímetro... de... curva... Mas as penas levantaram-se em turbilhão, atrapalhou-se e caiu.
Como se sabe, as gaivotas nunca se atrapalham, nunca caem. Atrapalhar-se no ar é para elas desgraça e desonra.
Mas Fernão Capelo Gaivota — sem se envergonhar, abrindo outra vez as asas naquela trêmula e difícil curva, parando, parando... e atrapalhando-se outra vez! — não era um pássaro vulgar.
A maior parte das gaivotas não se preocupa em aprender mais do que os simples fatos do voo — como ir da costa à comida e voltar. Para a maioria, o importante não é voar, mas comer. Para esta gaivota, contudo, o importante não era comer, mas voar. Antes de tudo o mais, Fernão Capelo Gaivota adorava voar.
Esta maneira de pensar não o popularizava entre os outros pássaros, como veio a descobrir. Até os próprios pais se sentiam desanimados ao vê-lo passar dias inteiros fazendo centenas de voos rasantes, sozinho.
Ele não sabia por que, por exemplo, quando voava sobre a água a uma altitude menor que a metade do comprimento das suas asas aberta, podia manter-se no ar mais tempo, com menos esforço. Esses voos rasantes não terminavam com a habitual amaragem de pés hirtos que feriam a água. Ele amarava de mansinho, os pés apertados contra o corpo, deixando apenas um rasto borbulhante. Quando começou a treinar as aterragens deslizantes na praia, e a contar em passos o comprimento do rasto na areia, os pais começaram a ficar deveras desanimados.
— Por quê, Fernão, POR QUÊ? — perguntava-lhe a mãe. — Por que é que lhe custa tanto ser como o resto do bando? Por que você não deixa os voos baixos para os pelicanos, para o albatroz? Por que não come? Filho, você está que é só pena e osso!
— Não me importo de estar só pena e osso, mãe. Eu só quero saber o que posso fazer no ar e o que não posso, é tudo. Só quero saber isso.
— Escute, Fernão — disse-lhe o pai com bondade. — O inverno não está longe.
Haverá poucos barcos e o peixe da superfície irá para zonas mais profundas. Se você tem necessidade de estudar, então estude o alimento e como consegui-lo. Esta história dos voos está muito certa, mas você tem de pensar que não pode comer um voo rasante. Não esqueça que a razão por que você voa é comer.
Fernão baixou a cabeça, obediente. Nos dias seguintes tentou comportar-se como as outras gaivotas; tentou de fato, gritando e lutando como o resto do bando, em volta dos pontões e dos barcos de pesca, mergulhando sobre restos de peixe e de pão. Mas não conseguiu.
"Não faz sentido", pensava ele largando deliberadamente uma anchova suculenta, que lhe custara bastante a ganhar, aos pés de uma velha gaivota esfomeada que o acossava. "Não faz sentido... Eu podia ganhar todo este tempo aprendendo a voar. Há tanto que aprender!"
Não tardou muito que Fernão Gaivota voltasse a pairar no céu, sozinho, longínquo, esfomeado, feliz, aprendendo.
O tema era a velocidade. Ao cabo de uma semana de prática, conseguira aprender mais sobre velocidade do que a gaivota viva mais rápida.
A trezentos metros de altura, batendo as asas com toda a força de que era capaz, lançou-se numa vertiginosa picada direta às ondas e aprendeu por que razão as gaivotas não fazem vertiginosos mergulhos picados. Em escassos seis segundos passou a mover-se a cento e vinte quilômetros por hora, velocidade que desequilibra a asa no arranque para a subida.
Vez após vez sucedeu o mesmo. Por mais cuidadoso que fosse, trabalhando até o limite da sua capacidade, perdia o controle em alta velocidade.
Subir a trezentos metros, dando primeiro tudo em frente; depois, dobrar o corpo e cair em mergulho vertical. Mas, sempre que tentava subir outra vez, a asa esquerda atrapalhava-se e fazia-o rolar violentamente para a esquerda. Ao tentar recuperar, era a asa direita que se atrapalhava, e então tremeleava como as chamas, num selvático movimento desordenado de parafuso, girando para a direita.
Não conseguiu ser suficientemente cuidadoso naquele arranque. Dez vezes tentou e dez vezes alcançou os cento e vinte quilômetros por hora, acabando sempre numa agitada massa de penas descontroladas que ia esmagar-se na água.
"A chave", pensou por fim, "deve estar em manter as asas paradas nas grandes velocidades — batê-las até chegar aos cento e vinte e depois pará-las."
Tentou outra vez a seiscentos metros, lançando-se no mergulho com o bico espetado, as asas bem abertas e firmes a partir do momento em que ultrapassou os cento e vinte quilômetros por hora. Precisou de uma força tremenda, mas deu resultado. Em dez segundos transformou-se numa mancha no céu, a cento e trinta quilômetros por hora.
Fernão acabava de estabelecer um recorde mundial de velocidade para gaivota!
Mas a vitória durou pouco. No instante em que tentou a horizontal, no instante em que modificou o ângulo das asas, projetou-se outra vez naquele terrível desastre descontrolado, e, a cento e trinta quilômetros, foi como se tivesse sido atingido por dinamite. Fernão Gaivota explodiu a meia altura e esmagou-se num mar duro como tijolo.
Quando voltou a si, a noite já era velha. Flutuava à superfície negra do oceano, encharcado em luar. As asas eram enormes e esfarrapadas barras de chumbo, mas o fracasso pesava-lhe ainda mais nas costas. Desfalecido, desejou que o peso fosse bastante para o arrastar docemente até o fundo, e acabar com tudo.
Ao afundar-se na água, uma estranha voz cavernosa soou dentro dele. "Não há nada a fazer. Sou uma gaivota. A minha natureza limita-me. Se estivesse destinado a aprender tanto acerca do voo, teria mapas em vez de miolos. Se estivesse destinado a voar a altas velocidades, teria asas curtas como o falcão e viveria de ratos em vez de peixes. O meu pai tem razão. Devo esquecer esta loucura. Devo regressar ao seio do bando e contentar-me com o que sou, uma pobre e limitada gaivota."
A noite sumiu-se, e Fernão acordou. Uma gaivota passa a noite em terra... A partir desse momento, jurou tornar-se uma gaivota normal. Seriam todos felizes.
Morto de cansaço, arrancou-se da água densa e voou para terra, grato pelo que aprendera: a forma de poupar trabalho voando a baixa altitude.
"Mas não!", pensou. "O que eu era acabou-se; acabou-se tudo o que aprendi. Sou uma gaivota como outra qualquer e voarei como uma delas." Assim, subiu dolorosamente a trinta metros e bateu as asas com mais força, apressando-se a chegar a terra. Sentiu-se melhor depois da decisão de ser apenas mais um do bando. Daí em diante não haveria mais laços a prendê-lo à força que o levara a aprender, não haveria mais desafios nem mais fracassos. E era bom deixar de pensar, e voar no escuro em direção às luzes da praia.
"ESCURO!" A voz irreal estalou em alarme. "AS GAIVOTAS NUNCA VOAM NO ESCURO!"
Mas Fernão não prestava atenção e não a ouvia. "É bom", pensava. "A Lua e as luzes brincando na água, atirando a pequenos lampejos, e tudo tão calmo, tão parado..."
"Desça! As gaivotas nunca voam no escuro! Se estivesse destinado a voar no escuro teria olhos de coruja! Teria mapas em vez de miolos! Teria as asas curtas do falcão!"
Envolto na noite, a trinta metros no ar, Fernão Capelo Gaivota... pestanejou. A dor e as resoluções desvaneceram-se.
Asas curtas. AS ASAS CURTAS DO FALCÃO!
"É isso! Como fui louco! Tudo o que preciso é de uma asinha curta, tudo o que preciso é fechar as asas o mais que puder e voar só com as pontas! ASAS CURTAS!"
Subiu a seiscentos metros acima do negro mar e, sem pensar um momento no fracasso ou na morte, apertou as asas de encontro ao corpo, deixou que apenas as pontas das asas cortassem o vento como lâminas de punhal e mergulhou na vertical.
O vento era rugido de um monstro na sua cabeça. Cem quilômetros por hora, cento e trinta, cento e oitenta, e ainda mais depressa. A tensão nas asas, agora que se deslocava à velocidade de duzentos quilômetros por hora, não chegava a ser tão forte como antes, a cento e trinta, e bastou-lhe mover só um bocadinho a ponta das asas para sair da queda sem dificuldade e disparar por cima das ondas como uma bala cinzenta de canhão apontada à Lua.
Semicerrou os olhos para se proteger do vento e regozijou-se. Duzentos quilômetros por hora! E controlados! Se mergulhasse de mil e quinhentos metros, em vez de seiscentos, que velocidade...
As promessas de momentos antes estavam esquecidas, varridas por aquele enorme vento rápido. E, contudo, não sentia remorso por não cumprir as promessas que fizera a si próprio. "Essas promessas são só para as gaivotas que aceitam o vulgar. Quem conseguiu chegar à excelência da sua aprendizagem não tem necessidade desse tipo de promessa."
Quando o sol começou a romper, Fernão Gaivota treinava outra vez. Vistos de mil e quinhentos metros, os barcos de pesca eram pontinhos escuros no azul liso da água, e o Bando da Alimentação, uma apagada nuvem de átomos de poeira, movendo-se em círculo.
Ele estava vivo, ligeiramente trêmulo de prazer, orgulhoso de que o seu medo estivesse dominado. Então, sem cerimônias, cingiu-se com as asas anteriores, estendeu as curtas, colocando as pontas em ângulo, e mergulhou diretamente em direção ao mar.
Quando passou os mil e duzentos metros, deslocava-se à velocidade máxima e o vento era um sólido muro de som contra o qual não podia mover-se mais depressa. Voava agora em pleno mergulho, à velocidade de trezentos e vinte quilômetros por hora. Engolia em seco, sabendo que se as asas se abrissem àquela velocidade ficaria reduzido a um milhão de pequenos fragmentos de gaivota. Mas a velocidade era poder, e era alegria e beleza pura. Começou o desvio a trezentos metros. As pontas das asas vibravam e ressoavam contra o vento gigante. O barco e a multidão de gaivotas cresciam à velocidade de um meteoro e lançavam-se diretamente no seu caminho.
Não podia parar; e ainda nem sabia como iria virar àquela velocidade.
A colisão seria morte instantânea.
Era melhor fechar os olhos.
Aconteceu então nessa manhã, logo a seguir ao nascer do sol, que Fernão Gaivota atravessou o Bando da Alimentação como uma bala, riscando o céu a trezentos quilômetros por hora, de olhos fechados, num tremendo rugido de vento e penas. A Gaivota da Fortuna sorriu-lhe desta vez e ninguém foi ferido.
Na altura em que espetou o bico para o céu, ainda flechava o ar a duzentos e quarenta quilômetros por hora. Quando por fim diminuiu para trinta e voltou a abrir as asas, o barco era apenas uma migalha no mar, mil e duzentos metros abaixo.
Na sua mente latejava o triunfo. Velocidade máxima! Uma gaivota a TREZENTOS E VINTE QUILÔMETROS POR HORA! Era uma vitória, o maior momento da historia do bando; e, nesse mesmo momento, nasceu uma nova era na vida de Fernão Gaivota. Voando para a sua solitária zona de treino, encolhendo as asas para um mergulho de dois mil e quatrocentos metros, dispôs-se imediatamente a descobrir como virar.
O movimento de um centímetro numa única pena da ponta da asa produzira uma curva larga e suave, a tremenda velocidade, descobriu ele. Contudo, antes de descobrir isto, verificou que, se movesse mais de uma pena àquela velocidade, era disparado em movimento giratório como uma bala de espingarda... E Fernão fez as primeiras acrobacias aéreas de uma gaivota viva.
Nesse dia não perdeu tempo conversando com as outras gaivotas e voou até depois do pôr-do-sol. Descobriu o "loop" (Este termo e os que o seguem designam movimentos de acrobacia aerodinâmica — N. do T.), o "slow roll", o "point roll", o "inverted spin", o "gull bunt", o "pinwheel".
Quando Fernão Gaivota se juntou ao bando na praia era já noite cerrada. Estava tonto e tremendamente cansado. Apesar disso, não resistiu ao prazer de voar num "loop" para terra e de fazer um "snap roll" antes de aterrar. "Quando souberem do triunfo", pensava, "ficarão loucos de alegria. Como vale a pena agora viver! Em vez da monótona labuta de procurar peixe junto dos barcos de pesca, temos uma razão para estar vivos! Podemos subtrair-nos à ignorância, podemos encontrar-nos como criaturas excelentes, inteligentes e hábeis. Podemos ser livres! PODEMOS APRENDER A VOAR!"
Os anos vindouros brilhavam e trauteavam promessas.
As gaivotas estavam reunidas em conselho quando ele aterrou, e, segundo parecia, já estavam em reunião havia algum tempo. Na realidade, estavam à espera dele.
— Fernão Capelo Gaivota! É chamado ao centro! — As palavras do Mais Velho foram pronunciadas no tom mais solene. Ser chamado ao centro só podia significar grande vergonha ou grande honra. Ser chamado ao centro por honra era a maneira como eram designados os principais chefes das gaivotas. "Claro", pensou, "o Bando da Alimentação esta manhã viu o triunfo! Mas eu não quero honras. Não me interessa ser chefe. Só quero partilhar o que descobri, mostrar a todos esses horizontes que estão à nossa frente." Avançou um passo.
— Fernão Gaivota — disse o Mais Velho — é chamado ao centro por vergonha aos olhos das gaivotas suas semelhantes!
Foi como se lhe batessem com uma tábua. Os joelhos enfraqueceram-lhe, um enorme rugido ensurdeceu-o. "Ser chamado ao centro por vergonha? Impossível! O triunfo! Eles não podem compreender! Estão errados, estão errados!"
— ... pela sua desastrada irresponsabilidade — entoava a voz solene —, por violar a dignidade e a tradição da família das gaivotas...
Ser chamado ao centro por vergonha significava que seria banido da sociedade das gaivotas, desterrado para uma vida solitária nos Penhascos Longínquos.
— ... um dia Fernão Capelo Gaivota aprenderá que a irresponsabilidade não compensa. A vida é o desconhecido e o desconhecível, mas não podemos esquecer que estamos neste mundo para comer e para nos mantermos vivos tanto quanto pudermos.
Uma gaivota nunca contesta o conselho do bando, mas a voz de Fernão ergueu-se gritando:
— Irresponsabilidade? Meus irmãos! Quem é mais responsável do que uma gaivota que descobre e desenvolve um significado, um propósito mais elevado na vida?
Passamos mil anos lutando por cabeças de peixe, mas agora temos uma razão para viver, para aprender, para descobrir, para sermos livres! Deem-se uma oportunidade, deixem-me mostrar-lhes o que descobri...
O bando mostrou-se impenetrável como a pedra.
— Quebrou-se a irmandade — entoaram em conjunto todas as gaivotas, e, em perfeito acordo, taparam solenemente os ouvidos e viraram-lhe as costas.
Fernão Gaivota passou o resto dos seus dias sozinho, mas voou muito além dos Penhascos Longínquos. A solidão não o entristecia. Entristecia-o que as outras gaivotas se tivessem recusado a acreditar na gloria do voo que as esperava. Recusaram-se a abrir os olhos e ver.
Aprendia cada vez mais. Aprendeu que um eficiente mergulho a grande velocidade lhe dava o peixe raro e saboroso que vivia três metros abaixo da superfície do mar. Já não precisava de barcos de pesca nem de pão duro para viver. Aprendeu a dormir no ar, estabelecendo um percurso noturno pelo vento do largo, cobrindo cento e cinquenta quilômetros desde o ocaso até a aurora. Utilizando o mesmo controle interior, voou através de nevoeiros cerrados e subiu acima deles para céus estonteantes de claridade... enquanto qualquer outra gaivota ficava em terra, conhecendo apenas neblina e chuva.
Aprendeu a dominar os altos ventos do continente e a jantar ali os delicados insetos.
O que outrora desejara para o bando tinha-o agora só para si. Aprendera a voar e não lamentava o preço que pagara por isso. Fernão Gaivota descobriu que o tédio, o medo e a ira são as razões por que a vida de uma gaivota é tão curta, e, sem isso a perturbar-lhe o pensamento, viveu de fato uma vida longa e feliz."

Deus abençoe você!
Álvaro Amorim.

Imagem: http://www.sxc.hu/photo/476177.
Nas citações desta obra ou de parte dela, inclua obrigatoriamente:
Autor: Álvaro Amorim, em http://anunciodaverdade.blogspot.com 

Papa Francisco: uma resposta do Espírito Santo

Uma fantástica surpresa!
Com este sentimento no coração, vi, junto com minha esposa e nossa filha Clara (de 1 ano e 9 meses de idade), o anúncio da eleição do Cardeal Jorge Mario Bergoglio como Papa de nossa amada Igreja, como Bispo de Roma, como ele insistiu em afirmar em seu primeiro pronunciamento, antes da bênção urbi et orbi, à Cidade (de Roma) e ao mundo.
Contudo, decidi esperar estes 15 dias após sua eleição para redigir este artigo, a fim de ter mais subsídios para tentar ler os sinais que vêm a nós por meio desta dádiva do Espírito Santo.
Primeiramente, o nome escolhido pelo novo Papa aponta para a missão que ele intuiu ser o desígnio de Deus para seu ministério. Francisco: o apaixonado por Jesus, por isto amante dos irmãos, da criação, todo doado a Deus, todo pobre para amar os pobres, e assim reconstrutor da Igreja, que ruía em meio a escândalos e riquezas no seu tempo.
Porém, vejo mais: Percebo uma guinada na condução da Igreja para a vivência do amor ao próximo como condição essencial e única para o amor a Deus. Aliás, já escrevi sobre isto, que não é assunto novo, está na Palavra de Deus:
"Se alguém disser: 'Amo a Deus', mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar" (I Jo, 4, 20).
Quando penso nisto, dá vontade de cantar aquele verso da canção do Martín Valverde: "Tenho esperado este momento..."
Ah, Jesus, como esperei este momento, e ele chegou, e o teu Espírito ouviu minhas súplicas e a de muitos!
Meu querido irmão, minha querida irmã, como falei a membros de Novas Comunidades que estava tudo errado, que se vivia uma espiritualidade "esquizofrênica", apartada da realidade, não só da realidade do meio em que Deus nos colocou, mas também da realidade da Palavra de Deus, como citei.
Como via claramente o desamor aos irmãos, dentro da própria célula comunitária, dentro das estruturas de governo, e ainda se tinha a presunção de dizer: "Somos uma família!"
Ficava claro que jamais se poderia ouvir dos outros a seguinte expressão que se dizia acerca dos primeiros cristãos, segundo conta Tertuliano (Apolog. 39): "Vede como eles se amam!"
Seria mais fácil ouvir: "Vede como eles se odeiam!"
Infelizmente, não somente as feridas pessoais contribuíam para essa triste realidade. O erro vinha de dentro, da direção, do governo, da formação "esquizofrênica" como já disse, isto é, totalmente apartada da realidade.
Se não, vejamos.
Uma formação que retira uma pessoa casada todas as noites da semana de seu lar, em vistas da "evangelização", implicando em ausência, desse pai ou dessa mãe, da sua família, do convívio com os filhos após o dia de trabalho, não pode ser uma formação saudável, verdadeira, autêntica, à luz da vontade de Deus para a família; apartada, pois, do que Deus deseja para a família.
Os pais, caro irmão, cara irmã, devem evangelizar primeiramente seus filhos, permanecendo com eles, amando-os, convivendo muito mesmo! E como se pode amar o filho sem conviver com ele ? O que passa na cabecinha de uma criança que não vê seu pai ou sua mãe quase todas as noites da semana ?
E não me venha com aquele tipo de disparate, totalmente mentiroso: "Deus cuida. Eu faço a minha parte, Deus faz a dele. Eu estou escolhendo a melhor parte, meus filhos beberão um dia dessa 'graça'!"
Pelo Amor de Deus! Este tipo de frase só me leva a dizer: É de sentar e chorar!
Eu ouvi da boca de uma cofundadora de Comunidade (ninguém me disse não, eu ouvi, e está gravado num DVD), durante uma formação dada por ela: 
"Por favor, não façam o que eu fiz! Não abandonem os filhos de vocês em nome da evangelização! Eu tenho hoje um filho ateu por causa disto, porque até em dia de aniversário dele, eu me ausentava para pregar. Por amor, não façam isto!"
Vejamos o que disse o hoje Papa emérito Bento XVI, no 5º Encontro Mundial das Famílias, em 17 de maio de 2005:
"Os pais são os primeiros evangelizadores dos filhos, dom precioso do Criador, começando pelo ensino das primeiras orações. Assim se vai construindo um universo moral enraizado na vontade de Deus, no qual o filho cresce nos valores humanos e cristãos que dão pleno sentido à vida. Ao tornarem-se pais, os esposos recebem de Deus o dom de uma nova responsabilidade. Seu amor paterno está chamado a ser para os filhos o sinal visível do mesmo amor de Deus, do qual procede toda paternidade no céu e na terra".
É hora de amar o próximo, como dizem São João, na sua primeira Carta, e o Papa Francisco. E saiba, meu irmão, minha irmã: O próximo mais próximo é o seu filho, a sua filha, não é aquela pessoa por quem você orará naquele imenso evento de evangelização.
É tempo de as Novas Comunidades reverem seriamente sua formação "esquizofrênica" e formarem seus membros para se amarem, para viverem como os primeiros cristãos. E não me venham dizer que isto é vivido através da partilha da comunhão de bens, do dízimo. Por favor! Falo de amor mesmo! Falo de gente que perdoa, que sabe que cada pessoa é única, que não tem medo de gente!
É "esquizofrênico" também apartar as pessoas do trabalho, da profissionalização, do estudo, do aperfeiçoamento profissional.
Os jovens devem ser direcionados pelas autoridades das Novas Comunidades para o estudo, para a profissionalização. Nestes ambientes, eles serão maravilhosos evangelizadores, primeiramente com seu testemunho de gente que estuda, que não falta, que se aperfeiçoa profissionalmente. Em seguida, poderão partilhar sua experiência com Deus, seu Encontro.
De novo: Já escrevi sobre isto, e vejo que o Papa Francisco é bem "pé no chão", o que o faz manter sempre o "coração ao Alto"!
Ao se despedir daqueles que o saudaram na Praça de São Pedro e dos milhões que o viam pelos meios de comunicação, ele disse: "Boa noite e bom repouso!"
Que belo ver o Papa nos mandando repousar depois de um dia de trabalho, de fadiga. Parecia um pai para seus filhos: "Vocês já estudaram, trabalharam, cumpriram com suas obrigações, agora é hora de dormir. Durmam bem! Bom repouso!"
Tão humano, por isto tão Santo Padre!
É, meu irmão, minha irmã, vem mais formação verdadeira do Santo Padre para nós.
Sabe o que ele disse na homilia da Missa do Crisma, hoje, nesta Quinta-feira Santa ?
"Não é nas reiteradas introspecções que encontramos o Senhor, nem mesmo nos cursos de autoajuda. O poder da graça cresce na medida em que, com fé, saímos (...) para dar a pouca unção que temos àqueles que nada têm".
E o Papa estava pregando na Missa do Crisma, em que se celebra o dom do sacerdócio, especificamente para os padres. Ora, se o padre não encontra o Senhor "nas reiteradas introspecções", isto é, nos constantes fechamentos em si mesmo, por exemplo, em horas de recolhimento, de retiro, mas o encontra quando sai de si para o seu rebanho, quando, como disse o Papa Francisco, "sente o cheiro das ovelhas", muito mais um pai-de-família não encontrará o Senhor isolando-se de sua família, mas indo ao seu encontro, sentindo o cheiro dos filhos, beijando-os, convivendo muito com eles, que são o rebanho confiado pelo próprio Senhor ao pai e à mãe.
Que Papa, hein !?
Por fim, às estruturas de governo das Novas Comunidades.
Vi sala de fundador, na "casa do governo", que é uma riqueza só! Suntuosa, majestosa, com tapetes enormes, um mapa do mundo imenso na frente de uma grande mesa oval, de madeira maciça, com uma cadeira estilo presidente super-confortável, bem alta, para o fundador, tudo projetado, caríssimo, parecido com a riqueza da Casa Branca!
E o Papa Francisco, quando foi visitar o apartamento papal, que havia sido fechado após a renúncia de Bento XVI, espantou-se com o tamanho do lugar e afirmou: "Mas aqui cabem 300 pessoas!"
Vi "prefeito" da "casa do governo" de Nova Comunidade tomando suco na hora do almoço, servido exclusivamente para si, e de graça, enquanto os empregados tinham a única opção básica: água, ou comprassem refrigerante com o seu parco salário!
Vi "autoridade" pedindo a devolução da "comunhão de bens", o dízimo, dizendo, em pregação, que a Comunidade não tinha dinheiro para manter suas obras sociais, seu trabalho com os drogaditos. Porém, para o filho desse membro do governo comunitário não faltavam as aulas de natação e para sua filha, as de balé!
Então nessas horas, quando descobertos, vinham com aquela frase maldita: "Não somos chamados à pobreza franciscana!"
Realmente, a pobreza de Francisco, o Santo de Assis, aquela que o Papa de mesmo nome quer para sua Igreja, anda a léguas dessa "casa de governo"!
Se eu fosse relatar aqui o que vi, mas vi mesmo!, 10 artigos não seriam suficientes.
Tenho certeza, meu irmão, minha irmã, de que sua fé não foi abalada com este relato, se sua fé é verdadeira, se você não vê Deus como um superprotetor e a Comunidade como uma redoma, dentro da qual você está protegido(a), mas se você vê Deus apaixonado por você, que não muda um "milímetro" o seu amor, mesmo quando você comete aquele pecado horrível!
Se você crê neste amor sem hesitar e se vê que sua Comunidade, como a nossa amada Igreja, pode mudar (e o Espírito escolheu o Papa Francisco para isto), então este artigo o(a) fortalecerá ainda mais, levando-o(a) a "acordar" para a sua missão de pai ou de mãe, de profissional, de leigo, que é chamado a viver neste mundo e não fugindo dele, "protegendo-se" na Comunidade!
Termino mostrando como o nosso Papa Francisco é simples e assim deseja que a Igreja seja.
A foto que usei na abertura deste artigo mostra o Papa sentado bem atrás na capela, em meio aos jardineiros do Vaticano, após uma missa celebrada por ele.
O Papa está em oração, no meio dos mais simples empregados do Vaticano, em um lugar sem destaque, sem pompa, sem "cadeira-presidente".
Recordou-me o ensinamento de Jesus quando seus discípulos discutiam por poder, tendo dois deles usado até a própria mãe para pedir "cargos" de "autoridade":
"Sabeis que os governadores das nações as dominam e os grandes as tiranizam. Entre vós não deverá ser assim. Ao contrário, aquele que quiser tornar-se grande entre vós seja aquele que serve, e o que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o vosso servo" (Mt 20, 25-27).
Deus abençoe você!
Álvaro Amorim.

Imagem: https://twitter.com/gnntridente.
Nas citações desta obra ou de parte dela, inclua obrigatoriamente: 
Autor: Álvaro Amorim, em http://anunciodaverdade.blogspot.com

A renúncia do Papa Bento XVI

Assim que soube do comunicado de renúncia do Santo Padre o Papa Bento XVI, vieram-me duas palavras ao coração: coragem e humildade.
Vejo o Papa como um homem corajoso e humilde diante desse ato.
Como sabemos, o cristianismo prega a eternidade, o "para-sempre", o comprometer a vida toda, até a morte.
Vejam-se, por exemplo, o matrimônio e o sacerdócio cristãos. Quando alguém deixa de ser padre ? Quando morre, pois no Céu não há sacerdotes, a não ser Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote (cf. Hb 4, 14). Quando alguém deixa de ser casado ? Quando morre ou quando seu cônjuge falece (cf. Mt 19, 6).
É óbvio que a renúncia papal está prevista no Direito Canônico, portanto não há irregularidades neste caso, mas, como sabido, não é usual, não é comum. Houve poucas durante toda a história da Igreja, que está acostumada a ver os papas serem sucedidos após sua morte e não em vida, como deverá ocorrer com Bento XVI.
Por isto, é muito corajoso um Papa que renuncia, mesmo havendo previsão jurídico-canônica, haja vista tal ato não ser comum.
Porém, a coragem dessa atitude não se restringe à falta de usualidade da renúncia, mas sobretudo naquilo que ela profundamente guarda: É um ato de um homem que, conhecendo-se à luz de Deus, percebe seus limites, é sabedor de sua verdade, e enfrenta o orgulho mascarado de vergonha, a qual sempre tenta proteger a autoimagem. Não, o Papa Bento XVI não se preocupou com sua autoimagem, como vários líderes religiosos. Não se deixou dominar por aquela pergunta orgulhosa do ego: "O que vão pensar de mim, o que vão falar de mim ?" Foi além do orgulho, enfrentou-o! Fez o que discerniu ser certo, como ele mesmo disse no seu discurso de anúncio da renúncia:
"Após ter repetidamente examinado minha consciência perante Deus, eu tive certeza de que minhas forças, devido à avançada idade, não são mais apropriadas para o adequado exercício do ministério de Pedro".
Que coragem de um homem que não teme as "certezas" dos outros, mas age segundo sua consciência perante Deus.
Que humildade de um homem que não esconde seus limites ou tenta disfarçá-los para manter uma pseudo-imagem diante dos outros!
Que coragem de um Papa que mostra a mim e a você que não há problema algum em ser humano, em admitir a humanidade, isto é, quem realmente somos. Que sabe que ser homem ou mulher, com tudo o que isto comporta: virtudes, dons, limites, fraquezas, não se contrapõe ao chamado à santidade, pois Deus nos chama à santidade como somos: homens e mulheres na família, no trabalho, com dons e limites. Ele não nos chama a sermos primeiramente anjos para depois sermos santos. Não!
Um Papa que renuncia ao papado, ao ministério de Pedro, como ele próprio disse, aponta para uma liberdade interior tremenda, para uma plena consciência do amor que Deus tem por ele.
Joseph (José, o primeiro nome do Papa) sabe-se plenamente amado por Deus, tem consciência de que Deus não vai deixá-lo de amá-lo um "milímetro" sequer por causa de sua renúncia. Não é daquelas tristes e escravas pessoas que acham que Deus só as ama se continuam em certas atividades, em compromissos comunitários. "Se faço, se cumpro, se obedeço, Deus me ama e me salvará, não irei para o inferno". Tadinhos(as)! Não entenderam, porque não experimentaram verdadeiramente, o Amor de Deus. Acham que Deus os ama a partir do que fazem e não simplesmente por quem são: filhos de Deus!
Como este exemplo do Vigário de Cristo na Terra será fundamental para as Novas Comunidades, que teimam em pregar coisas do tipo: "Pois é, saiu da Comunidade, não será plenamente feliz. A única via para a santidade é a Comunidade".
Conheço tanta gente profundamente infeliz em vida comunitária, vivendo uma máscara, uma "capa", dizendo que ama a Deus por cumprir regras, mas odiando o próximo mais próximo (cf. I Jo 4, 20).
E conheço muito mais pessoas, inclusive "autoridades", que pregam o medo, o terror, para que os outros nem sequer se questionem se devem permanecer ou não na Comunidade, se foram chamadas por Deus apenas por um determinado tempo, para viver uma missão por certo período de suas vidas, como é o caso de nosso querido Papa Bento XVI.
Sim, há chamados temporários também, não somente os "para-sempre" do matrimônio e do sacerdócio. Às vezes, Deus, em seu amor, quer realizar uma maravilhosa obra valendo-se de certo tempo na vida de alguém, e isto é belo, é grande, é extraordinário. Basta que cada um, como o Papa, perceba-se à luz de Deus e não entre em crise porque outros afirmam o contrário.
Aliás, no início da minha caminhada, aprendi algo muito verdadeiro com uma jovem formadora: "Deus não manda recado, fala pessoalmente a você!"
Assim ele fez com seu filho Joseph (o Papa).
Que Deus o continue abençoando, Papa Bento XVI, homem corajoso e humilde!
Deus abençoe você também!
Álvaro Amorim.
 
Nas citações desta obra ou de parte dela, inclua obrigatoriamente:
Autor: Álvaro Amorim, em http://anunciodaverdade.blogspot.com

O pior de todos os pecados

Se você acha que adulterar no matrimônio é o pior dos pecados, enganou-se. Se você pensa que é roubar, está longe de acertar. Se considera que é viver embriagado, aí é que está errado!
Por surpreendente que pareçam, esses tipos de pecados mais "vistosos" aos olhos humanos não chegam nem perto do pior de todos os pecados: o orgulho!
Antes de provar por que o orgulho é o pior tipo de ofensa a Deus e ao próximo, quero deixar bem claro que os exemplos citados são pecados sim, só que não alcançam a perniciosidade do orgulho, considerando-se o cometimento de plena consciência, isto é, quando o agente atua sabendo o que está fazendo.
Vejamos logo, de cara, o que diz a Palavra de Deus:
"Exterminarei o que em segredo caluniar seu próximo. Não suportarei homem arrogante e de coração orgulhoso" (Salmo 101(100), versículo 5).
"Deus resiste aos soberbos [orgulhosos], mas dá sua graça aos humildes" (Tiago 4, 6).
É óbvio que alguém que intencionalmente rouba, que sabe que é errado e continua a roubar até o fim da vida, sem arrependimento nenhum, provavelmente não encontrará graça diante de Deus. Não que o Senhor não seja sempre misericordioso. Não! O que há não é um defeito na misericórdia divina, mas sim uma contumácia (teimosia), insistência do homem em permanecer sempre no erro, no pecado. Como Deus criou o homem com o livre-arbítrio, ele respeita a decisão de cada um, pois, se não a respeitasse, verdadeiramente não amaria o homem, pois faria dele uma marionete, conduzindo-o "à força" para o bem, o que é, em si, uma contradição, e contradição não há em Deus.
Ocorre que, se esse ladrão que, por exemplo, roubou fortunas, arrepender-se de verdade, no mesmo instante, Deus já o perdoou e lhe garantiu o Céu, pleno, cheio de graça, o mesmo estado de graça no qual se encontram todos os santos, como São Francisco de Assis, só para citar um.
"Ah, Álvaro, não é possível! Você quer dizer que alguém que fez o mal a vida toda e se arrependeu (vá lá que seja de verdade!) tem a possibilidade de usufruir o Céu como qualquer santo ?!"
A esta pergunta que poderia ser feita por alguém, deixo simplesmente Jesus responder:
"Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: 'Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós!' Mas o outro o repreendeu: 'Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício ? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum.' E acrescentou: 'Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!' Jesus respondeu-lhe: 'Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso'." (Lucas 23, 39-43).
Não seria necessário escrever mais nada, mas vamos lá, ver a maldição do orgulho!
Nesta minha caminhada, desde o meu primeiro encontro com Cristo, nos dias 19 e 20 de agosto de 2000, deparei-me com situações marcantes, relativas ao que escrevo agora:
Vi pessoas participantes de grupos de oração ou de comunidades sofrerem perseguições, injúrias, maledicências, desprezo, rejeição, desamor porque cometeram os ditos "pecados vistosos", aqueles citados no primeiro parágrafo deste texto, por exemplo. E toda essa repulsa anti-evangélica, na maioria das vezes, partiu de pessoas tidas como "santas, justas, consagradas!"
Fico imaginando se Jesus faria o mesmo.
Como foi que Jesus agiu com a mulher descoberta em adultério (João 8, 1-11) ? Ele jogou pedra ? Ele achou justo que os outros a apedrejassem ? Não! Sabiamente, ele a livrou da morte, da ira dos tidos como "justos"! Aliás, mandou que eles olhassem para si mesmos e vissem que também eram pecadores, já que o orgulho daqueles algozes os impedia de se considerarem como tais.
Aí está o orgulho: Não se vê o "tamanho" do próprio pecado, mas se considera "imenso" o do outro! Nada mais enganador! Nada mais diabólico!
Por isto é que "Deus resiste aos soberbos [orgulhosos], mas dá sua graça aos humildes" (Tiago 4, 6). O orgulhoso não permite que a graça de Deus o alcance, e Deus respeita essa decisão. O pecador humilde arrasta para si toda a misericórdia divina, que "alveja" sua alma, que o santifica.
Veja o exemplo que Jesus usou para mostrar como é a misericórdia divina: Lucas 15, 11-24 (A Parábola do Filho Pródigo).
Bastou o filho que havia abandonado a Casa do Pai arrepender-se e começar a voltar para o Pai, que este, "movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou" (Lucas 15, 20).
Pergunta: O Pai disse ao filho, ainda ao longe, alguma das frases abaixo ?
"Eh, rapaz, quero ver se você muda mesmo! Torrou parte da minha fortuna e agora vem de cara lisa ?" Ou então: "Eh, sujeito, vai pra roça, trabalhar com os servos, antes de eu pensar em deixar você entrar em casa de novo!" Ou ainda (pelo menos!): "Olha, tudo bem, mas vá tomar um bom banho porque esse fedor de porcos tá demais!" 
Foi assim que o Pai fez ? Foi esse tipo de condição que o Pai impôs para acolher o Filho ?
De jeito nenhum!
O filho estava "podre de fedor", não só porque estava trabalhando com porcos e disputando na lama as bolotas que jogavam a esses animais, mas sobretudo pelo seu pecado.
Mas o Pai não quis nem saber: "movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou" (Lucas 15, 20).
Na verdade, o Pai nem respondeu ao que o filho tinha decorado para dizer ("Meu Pai, pequei contra o céu e contra ti [...]"). Foi logo se voltando aos servos e mandando que eles vestissem o filho e preparassem um banquete. Sabe por quê ? Porque ao Pai, a Deus, que é a misericórdia em pessoa, não interessam as justificativas, as explicações. Ele quer seu filho: eu e você, pecadores que se reconhecem pecadores, que não barram a graça do perdão, da misericórdia, do amor, com o maldito orgulho!
Pecadores sim, mas que confiam na misericórdia de Deus porque já experimentaram de verdade este Amor, porque já viram bem fundo naqueles belos olhos de ternura o aconchego do perdão!
Que belos olhos de amor tem Jesus!
Como é triste ver irmãos em Cristo afastarem-se de outros que não participam mais do grupo de oração.
Lembro-me do que disse um padre de uma Nova Comunidade numa pregação: "No quadrante seguinte, nem aparecem mais os nomes daqueles que saíram do grupo, mas estes nomes deveriam estar no topo da primeira folha do quadrante, pois são os que deveriam ser mais lembrados".
Como não combina nem um pouco com o Evangelho achar orgulhosamente que estando no grupo ou na comunidade, garantida está a "santidade", e que aos "de fora" resta a impiedade!
Tenho visto tanta gente trilhando o caminho da santidade sem estar em grupo ou comunidade!
Por exemplo: Uma mãe de família que era bem farristazinha quando solteira e que hoje, casada, com filhos, suporta no Amor os desafios de ter um marido imaturo, que gosta de beber de vez em quando, o qual não partilha de modo justo o fardo do lar! Essa jovem mãe é paciente, não tem ataques histéricos, não vive murmurando, nem colocando o marido "na parede" para ele agir de outro modo. Sabe o que ela faz ? Vive o Evangelho: simplesmente ama! E muita gente não acreditava que ela seria assim quando casou grávida. Mas, como diz a Palavra: "O Espírito sopra onde quer" (João 3, 8), e não somente nos grupos de oração ou comunidades.
Que lição de amor para o orgulhoso!
Uma vez ouvi de um fundador de uma Nova Comunidade, numa pregação para seus membros: "Vocês não deveriam se escandalizar com os pecados que alguns membros da comunidade cometem. Deveriam se escandalizar é com a falta de misericórdia que vocês têm com esses irmãos!"
Deus abençoe você!
Álvaro Amorim.

Imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Parábola_do_Filho_Pródigo
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Autor: Álvaro Amorim, em http://anunciodaverdade.blogspot.com

Prostituta e ladrão podem almoçar com você ?

É impressionante o número de pessoas que vivem uma relação com um deus que não existe, com um ídolo que elas mesmas "criaram" em suas mentes.
Refiro-me especificamente à vivência em algumas novas comunidades. Não vou falar de outras religiões ou realidades.
Vi, nesses quase 12 anos de caminhada, alguns tipos clássicos de fieis, de "vocacionados", de "consagrados".
Um tipo sempre me intrigou: "O certinho". É aquele que nunca viveu no "mundão", que tinha uma vida socialmente "aprovável" antes de fazer parte da comunidade.
Geralmente, esse tipo vê na comunidade uma proteção, como que uma redoma sob a qual ele pode abrigar-se, uma "estrutura" que o livrou para sempre de correr os "riscos" de viver "lá fora".
Aliás, "lá fora", no seu pensar, representa uma ameaça ao seu próprio ser. Portanto, permanecer na comunidade, custe o que custar, é a meta de sua vida, é sua segurança.
Realmente, no Antigo Testamento, podemos ver esse tipo de relação com Deus:
"Ninguém é santo como o Senhor. Não existe outro Deus, além de vós, nem rochedo semelhante ao nosso Deus" (I Samuel 2, 2) (Destaquei).
Como sabido, o rochedo, numa batalha, é um lugar estratégico. De cima dele, pode-se ver todo o vale, preparar-se de forma segura para o inimigo que chega, inclusive surpreendê-lo. É a ideal proteção, segurança, no campo de batalha.
O povo de Israel, cujo caráter beligerante mantém-se até hoje, sabia muito bem a importância de abrigar-se no rochedo durante a guerra.
Não é assim que esse tipo de fiel, "vocacionado" ou "consagrado" vive sua relação com Deus na comunidade ? Como se não tivesse havido a Nova Aliança!
Ai se alguém convidá-lo para um bom show de MPB! Pense! A reação vai ser bem maniqueísta: "Não ando nas coisas do mundo!"
A cabeça desse homem (dessa mulher) da "antiga aliança" funciona assim: "Aqui, na comunidade, é o lugar onde Deus habita, é o lugar "santo". "Lá fora", "no mundo", habita o "cão", o Satanás! Aqui estão os "de Deus", lá fora..."
Isto é puro maniqueísmo: rotular algo, alguém como pertencente ao lado do bem ou ao lado do mal.
Tal comportamento demonstra uma ignorância total, um desconhecimento de quem é o ser humano, tão complexo, tão belo, um mistério, e de como Deus olha para os seus filhos e os ama a todos.
Esse tipo sente-se mal, por exemplo, ao comer à mesma mesa com um espírita ou um ateu, por exemplo. Acha que vai "se contaminar". Ora bem muito antes de se sentar, em silêncio, para não pegar nenhuma "maldição"!
Meu Deus! Que absurdo!
Fico imaginando Jesus, quando andou por esta Terra: À mesa dele sentava-se só gente "certinha", não é mesmo ? Claro que não! Além de prostituta, ladrão, comia com Jesus gente que divergia em algumas questões de fé, como os fariseus, os saduceus. E como Jesus agia ? Orava ao Pai para não "se contaminar", não é ? Ou, então, ficava com medo de alguma "maldição" ? De jeito nenhum! Ele agia normalmente. Aliás, ia muito além: amava-os, acolhia-os!
Vamos à Bíblia para conferir:
"Como Jesus estivesse à mesa na casa desse homem [o próprio evangelista Mateus, chamado originalmente Levi, desonesto cobrador de impostos], numerosos publicanos e pecadores vieram e sentaram-se com ele e seus discípulos" (Mateus 9, 10) (Grifei).
Que exemplo para aqueles "consagrados", "vocacionados" que trabalham com espíritas, com ateus, e chegam para o formador pessoal relatando o "grande desafio!" de trabalhar com "essa gente!"
Que maldito orgulho maniqueísta: "Eu sou bom, eles são ruins!"
Que péssima formação que essas pessoas receberam ou que omissão das novas comunidades ao não formar esses "consagrados", "vocacionados"!
Ah, mas se você perguntar para algum deles como se concretiza diariamente o seu amor a Deus, sabe o que ele vai dizer ? "Eu amo a Deus através da oração pessoal, do estudo bíblico", e aí vai citar uma série de "pontos de regra" para mostrar que "cumpre a lei", que "ama Jesus"!
Você já ouviu falar do Discípulo Amado, não é verdade ? Você sabe que se trata do apóstolo João, o mais novo dos Doze, não é mesmo ? Pois é, de tão amado por Jesus, ele aprendeu como verificar se o amor que alguém diz ter por Deus é verdadeiro ou falso. E ele escreveu isto para mim e para você:
"Se alguém disser: ´Amo a Deus´, mas odeia seu irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a quem não vê" (I João 4, 20) (Destaquei).

Deus abençoe você!
Álvaro Amorim.
Imagem: http://www.sxc.hu/photo/1276439.
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Vá trabalhar, rapaz!

No post anterior, escrevi sobre a beleza do matrimônio e como as novas comunidades devem formar os jovens para esta magnífica vocação.
Neste artigo, tecerei comentários sobre a beleza do trabalho no mundo.
Eu não poderia iniciar este tema sem uma citação daquele que melhor falou e escreveu sobre a beleza do trabalho no mundo, sobre como a vivência desta realidade pelo cristão é meio de santificação sua e das outras pessoas.
Vamos lá, querido São Josemaria Escrivá!
"O trabalho é a vocação inicial do homem, é uma bênção de Deus, e enganam-se lamentavelmente os que o consideram um castigo. O Senhor, o melhor dos pais, colocou o primeiro homem no paraíso para que trabalhasse. (Sulco, 482).
O trabalho acompanha inevitavelmente a vida do homem sobre a terra. Com ele aparecem o esforço, a fadiga, o cansaço, manifestações da dor e da luta que fazem parte da nossa existência humana atual, e que são sinais da realidade do pecado e da necessidade da redenção. Mas o trabalho em si não é uma pena, nem uma maldição ou um castigo: aqueles que falam assim não leram bem a Sagrada Escritura.
É hora de que todos nós, cristãos, anunciemos bem alto que o trabalho é um dom de Deus, e que não faz nenhum sentido dividir os homens em diferentes categorias, conforme os tipos de trabalho, considerando umas ocupações mais nobres do que as outras. O trabalho, todo o trabalho, é testemunho da dignidade do homem, do seu domínio sobre a criação; é meio de desenvolvimento da personalidade; é vínculo de união com os outros seres; fonte de recursos para o sustento da família; meio de contribuir para o progresso da sociedade em que se vive e para o progresso de toda a humanidade.
Para um cristão, essas perspectivas alargam-se e ampliam-se, porque o trabalho se apresenta como participação na obra criadora de Deus que, ao criar o homem, o abençoou dizendo: Crescei e multiplicai-vos, e enchei a terra e submetei-a, e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves do céu, e sobre todos os animais que se movem sobre a terra. (É Cristo que passa, 47)".
Algumas palavras deste Santo, canonizado pelo Servo de Deus o Papa João Paulo II, chamam a atenção:
1) "O trabalho é a vocação inicial do homem".
Realmente, depois que Deus criou o homem (a humanidade), ele o chamou ao trabalho, vocacionou-o a cooperar com sua obra, como podemos ler em Gênesis 1, 27-31.
2) "O trabalho é meio de desenvolvimento da personalidade".
Fico triste por às vezes ver jovens passarem a tarde e a noite toda em um centro de evangelização, batendo papo, ou até realizando atividades comunitárias mesmo. Se não são chamados à comunidade de vida, deveriam estar estudando, profissionalizando-se ou até mesmo já trabalhando, permitindo assim que o Senhor, como diz São Josemaria Escrivá, desenvolva sua personalidade por meio das atividades próprias do trabalho, do contato com os colegas de emprego, através dos desafios de realizar as tarefas determinadas por seu chefe, ganhando seu justo salário, aprendendo a partilhar com os pais algumas despesas domésticas, a economizar, a evitar o consumismo, a lidar com clientes, com pessoas diferentes. Numa palavra: amadurecendo!
Conheço "jovens" de mais de 30 anos de idade que continuam nessa "vidinha" sob a sombra protetora de comunidades! Dá vontade de dizer bem alto: "Vá trabalhar, rapaz! Não fuja dos problemas de sua casa escondendo-se sob a máscara de um jovem "devotado" à comunidade, que "reza" tanto, tão "piedoso" (às vezes até anda com a cabeça torta, de lado, com um ar "angelical")". 
Que fuga, que desvio da vontade de Deus, o qual quer desenvolver a personalidade do jovem para que ele seja transformado em um homem (uma mulher) que possa assumir o matrimônio, os filhos, o trabalho diário, as responsabilidades de quem está à frente de uma casa, de um lar!
Como as novas comunidades têm responsabilidade por esses jovens! Como se omitem quando veem jovens nessa situação e não os direcionam para os estudos, para o trabalho!
3) "O trabalho se apresenta como participação na obra criadora de Deus".
Há pessoas que pensam que o trabalho serve somente para si, que não tem valor para Deus. É mais ou menos assim: Se estou rezando por alguém lá no pátio do centro de evangelização, então estou fazendo algo para Deus. Se estou elaborando um relatório que meu chefe mandou, então isto não é para Deus, é para meu chefe, para o meu trabalho!
Meu Deus! Que absurdo!
Acabamos de ver que o trabalho, nas palavras de São Josemaria Escrivá, é uma vocação, é uma bênção de Deus! Como pode, então, ter valor inferior a qualquer outra atividade, a rezar por alguém, por exemplo ?
Só pensa o contrário quem vive uma espiritualidade desencarnada, apartada da realidade, esquizofrênica!
Mas vá perguntar isto numa comunidade: O que tem mais valor: pôr a mão sobre a cabeça de alguém e rezar por ele ou fazer um relatório mandado pelo chefe no trabalho ? A imensa maioria, por má formação comunitária, responderá que é a primeira opção.
Esqueceu-se essa maioria das palavras do Senhor, por meio do apóstolo São Paulo:
"Intimamo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que eviteis a convivência de todo irmão que leve vida ociosa e contrária à tradição que de nós tendes recebido. Sabeis perfeitamente o que deveis fazer para nos imitar. Não temos vivido entre vós desregradamente, nem temos comido de graça o pão de ninguém. Mas, com trabalho e fadiga, labutamos noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos direito para isso, mas foi para vos oferecer em nós mesmos um exemplo a imitar. Aliás, quando estávamos convosco, nós vos dizíamos formalmente: Quem não quiser trabalhar, não tem o direito de comer. Entretanto, soubemos que entre vós há alguns desordeiros, vadios, que só se preocupam em intrometer-se em assuntos alheios. A esses indivíduos ordenamos e exortamos a que se dediquem tranquilamente ao trabalho para merecerem ganhar o que comer" (II Tessalonicenses 3, 6-12) (Grifei).
É interessante até perceber a grande contradição nas formações de algumas novas comunidades: Super-incentivam a vocação à comunidade de vida, mas na hora de exortarem pela devolução da comunhão de bens (dízimo, partilha ou outro termo que se use), são implacáveis com aqueles que não recebem formação nenhuma sobre o trabalho: a obra e a comunidade de aliança!
Ora, a comunidade de vida não recebe salário para poder retirar um percentual para o dízimo, mas quem recebe salário, por meio do justo trabalho (vocação e bênção de Deus), são a obra e a comunidade de aliança. Como então não incentivar os jovens à vivência do trabalho, até para poderem ser canais de manutenção econômica das comunidades ? Parece ilógico não formar os jovens para o trabalho no mundo, até sob este ponto de vista econômico, já que Deus quis contar com percentuais dos salários de membros da obra e da comunidade de aliança para a manutenção das novas comunidades!
Mas o mais importante: A formação dos jovens para o trabalho é uma resposta à vontade de Deus, que quer que todos evangelizem estando no mundo, nos escritórios, nas fábricas, nas empresas, nos hospitais, nas escolas, nas universidades, sendo, como diz Jesus, sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13-16).
Deus abençoe você!
Álvaro Amorim. 
Imagem: http://www.sxc.hu/photo/686444. 
Nas citações desta obra ou de parte dela,
inclua obrigatoriamente: Autor: Álvaro Amorim, em http://anunciodaverdade.blogspot.com

Nada de chilique, só amor!

As novas comunidades têm um grande desafio no tempo presente, de cuja solução depende a eficácia da evangelização no mundo hodierno: Permitir que o Espírito purifique o ser aliança/engajado/obra, isto é, o viver a consagração a Deus estando no mundo, trabalhando, vivendo na família natural, em meio aos amigos, na Universidade.
Digo isto porque conheço um pouco a amplitude deste desafio.
Pelo simples fato de terem surgido há menos de 50 anos, sendo, portanto, novíssimas na Igreja (o Franciscanismo tem mais de 800 anos e ainda se permite ser renovado pelo Espírito!), as novas comunidades encontram-se em processo de nascimento, são como que bebês recém-nascidos, que dependem em tudo dos pais. Logo, não podem prescindir do cuidado paterno e materno, sob pena de fazerem muitas "bobagens", pondo em risco sua própria existência.
Este cuidado deve ser acolhido como algo vital, vindo do próprio Deus, recebido por cada fundador, cofundador, conselho geral ou outro órgão deliberativo da comunidade. Há que se deixar de lado o orgulho de achar-se o único receptáculo da voz de Deus para ouvir os casais, os jovens, os estudantes que são membros da comunidade. Não se trata de uma escuta democrática, a qual resultaria no acolhimento da vontade da maioria, não! Sabemos que as coisas de Deus não são discernidas assim, pela maioria! Mas significa ouvir essas realidades contemplando seu mistério, respeitando sua natureza, colhendo delas a beleza que o Criador lhes atribuiu. Numa palavra: permitindo e incentivando que elas sejam aquilo que são: que a família seja família, que o estudante seja estudante, e assim por diante.
É preocupante ver nas novas comunidades uma tendência, muitas vezes vinda da direção das mesmas, a "celibatarizar" ou "clerificar" quase todos os jovens que participam da obra, ou, pior ainda, as famílias que fazem parte da comunidade.
Isto ocorre quando, por exemplo, no ano formativo da comunidade, há bastante tempo dedicado à apresentação das belíssimas vocações ao celibato e ao sacerdócio, mas quase não há nada referente à também belíssima vocação ao matrimônio, a começar por abordar temas como o namoro, a sexualidade, a formação/educação dos filhos.
Parece que, por considerarem a vocação ao matrimônio algo natural, esquecendo que também é sobrenatural, posto ser um chamado de Deus, deixam "para lá", a fim de que aqueles que são chamados ao matrimônio cuidem, por si só, de sua formação inicial.
Que triste e irresponsável omissão!
Certa vez, uma psicóloga amiga minha contou-me, sem citar nomes, é claro, que atendeu moças recém-casadas, consagradas de comunidades de renome, que estavam ainda durante a fase que deveria ser a "lua-de-mel", mas que simplesmente deram um tremendo "chilique" quando se viram diante de seu marido, nu, na noite de núpcias! Praticamente "piraram".
Umas relataram que, no fundo do coração, tinham a sensação de estarem cometendo um grave pecado, ao "terem" que viver o ato conjugal (relação sexual entre os cônjuges), mesmo tendo acabado de receber a bênção de Deus na celebração do matrimônio.
Outras desabafaram aos prantos dizendo que simplesmente "petrificaram-se", que preferiam não viver aquele momento, que rezar era muito melhor, que achavam que estavam traindo Jesus!
Meu Deus! Que absurdo!
Não precisa nem fazer uma defesa da belíssima vocação matrimonial, com tudo o que ela comporta, inclusive com o ato conjugal, abençoado e querido por Deus para a união do casal e para a procriação, para se perceber que houve graves falhas, lacunas na formação dessas moças consagradas!
Pior! Já ouvi fundador de comunidade dizendo que não era necessário falar/pregar/formar sobre o ato conjugal, pois todo homem e mulher sabem o que fazer na lua-de-mel, após a celebração do casamento na Igreja.
É! Parece que, para essas moças atendidas gratuitamente por essa minha amiga psicóloga, algo deveria ter sido falado/pregado/formado!
Aliás, não somente sobre a beleza do ato conjugal se deve falar, mas sobre o matrimônio como um todo, sobre como ele é caminho de santidade.
Basta relembrar que o Servo de Deus o Papa João Paulo II beatificou o casal Luigi e Maria Beltrame Quattrocchi, em 21 de outubro de 2001.
E atenção: Esse casal teve 4 filhos, logo tiveram atos conjugais, sim! Deram-se um ao outro, de corpo e alma, vivendo seu amor recíproco, para a geração dos 4 filhos, tudo muito normal!
Viveram sem alarde!
Ele não precisou deixar a família toda noite para pregar o evangelho aos outros, e ela não precisou deixar os filhos em casa com babás para evangelizar pelas ruas para serem santos! Não! Viveram primeiramente em família, para a família, e assim evangelizaram, deram testemunho a todos que eram por eles acolhidos em seu lar.
Veja o que disse o Papa João Paulo II na homilia da missa de beatificação desse casal:
"Luigi e Maria viveram, à luz do Evangelho e com grande intensidade humana, o amor conjugal e o serviço à vida. Assumiram com responsabilidade total a tarefa de colaborar com Deus na procriação, dedicando-se generosamente aos filhos a fim de os educar, guiar e orientar na descoberta dos seus desígnios de amor. Deste terreno espiritual tão fértil surgiram vocações para o sacerdócio e para a vida consagrada, que demonstram como o matrimônio e a virgindade, a partir do comum enraizamento no amor esponsal do Senhor, estão intimamente relacionados e se iluminam reciprocamente. Foram cristãos convictos, coerentes e fiéis ao seu próprio batismo; foram pessoas cheias de esperança, que souberam dar o justo significado às realidades terrenas, tendo os olhos e o coração postos sempre na eternidade. Fizeram da sua família uma autêntica igreja doméstica, aberta à vida, à oração, ao testemunho do Evangelho, ao apostolado social, à solidariedade com os pobres, à amizade" (Destacou-se).
Ora, se há formação para os rapazes que desejam ingressar no seminário, por que não se dá, com a mesma e justa intensidade, formação para os jovens que desejam "ingressar" no namoro ? Será que Deus faz distinção ? Será que a vocação ao sacerdócio é "superior" à do matrimônio ?
Primeiro: A Igreja, pelo Servo de Deus João Paulo II, não teria beatificado esse casal se o matrimônio não tivesse grande valor para Deus!
Segundo: O que é a Bíblia mesmo ? Se pudéssemos resumi-la numa breve explicação, poderíamos dizer: Do início ao fim, é Deus que desposa a humanidade, que quer que o homem e a mulher vivam nele para sempre!
Desposar, esposo, esposa! Não são palavras da mesma família, com a mesma raiz ?
Qual a "historinha" que inicia a Bíblia ? A história de um casal, do primeiro casal, Adão e Eva (Livro do Gênesis).
Como a Bíblia termina ? Com as núpcias do Cordeiro: Deus se valeu da imagem das núpcias, do matrimônio, para mostrar que na Eternidade viveremos unidos a ele (guardadas as devidas proporções) como um casal deve viver aqui na Terra (Livro do Apocalipse).
Ah, e no meio desse "livro", a Bíblia Sagrada, Deus colocou o Cântico dos Cânticos: mais uma imagem matrimonial que Deus quis usar para mostrar como ele nos ama. Vamos a este belo texto sagrado:
" - Tu és bela, minha querida, tu és formosa! Por detrás do teu véu os teus olhos são como pombas, teus cabelos são como um rebanho de cabras descendo impetuosas pela montanha de Galaad, teus dentes são como um rebanho de ovelhas tosquiadas que sobem do banho; cada uma leva dois (cordeirinhos) gêmeos, e nenhuma há estéril entre elas.Teus lábios são como um fio de púrpura, e graciosa é tua boca. Tua face é como um pedaço de romã debaixo do teu véu; teu pescoço é semelhante à torre de Davi, construída para depósito de armas. Aí estão pendentes mil escudos, todos os escudos dos valentes. Os teus dois seios são como dois filhotes gêmeos de uma gazela pastando entre os lírios. Antes que sopre a brisa do dia, e se estendam as sombras, irei ao monte da mirra, e à colina do incenso. És toda bela, ó minha amiga, e não há mancha em ti. Vem comigo do Líbano, ó esposa, vem comigo do Líbano! Olha dos cumes do Amaná, do cimo de Sanir e do Hermon, das cavernas dos leões, dos esconderijos das panteras. Tu me fazes delirar, minha irmã, minha esposa, tu me fazes delirar com um só dos teus olhares, com um só colar do teu pescoço. Como são deliciosas as tuas carícias, minha irmã, minha esposa! Mais deliciosos que o vinho são teus amores, e o odor dos teus perfumes excede o de todos os aromas! Teus lábios, ó esposa, destilam o mel; há mel e leite sob a tua língua. O perfume de tuas vestes é como o perfume do Líbano. És um jardim fechado, minha irmã, minha esposa, uma nascente fechada, uma fonte selada. Teus rebentos são como um bosque de romãs com frutos deliciosos; com ligústica e nardo, nardo e açafrão, canela e cinamomo, com todas as árvores de incenso, mirra e aloés, com os balsámos mais preciosos. És a fonte de meu jardim, uma fonte de água viva, um riacho que corre do Líbano. - Levanta-te, vento do norte, vem tu, vento do sul. Sopra no meu jardim para que se espalhem os meus perfumes. Entre meu amado no seu jardim, prove-lhe os frutos deliciosos." (Ct 4, 1-16, páginas 829 e 830 na Bíblia da Ave-Maria).
Portanto, no começo, no meio e no final da Bíblia Sagrada, o que se encontra ? O matrimônio, obviamente utilizado por Deus para nos mostrar como ele nos ama, e é óbvio que Deus não usaria algo que não tivesse grande valor para mostrar aquilo que tem valor infinito!
Assim, por amor a Deus, fundadores, cofundadores, conselhos gerais, autoridades e órgãos de decisão e discernimento das novas comunidades, proclamem a beleza do matrimônio, formando os jovens para o namoro, falando de sexualidade, pregando sobre o casamento, sem ter medo, receio tolo, respondendo perguntas, tirando dúvidas mesmo!
E deixem que as famílias vivam primeiramente em família, ganhem tempo com os filhos! Como disse João Paulo II, "dedicando-se generosamente aos filhos", para, aí sim, darem testemunho de família cristã e acolherem os necessitados de amor, de misericórdia, como fizeram os beatos Luigi e Maria, um casal santo!
Desta forma, nada de chilique, só amor, só santidade por meio do matrimônio!

Deus abençoe você!
Álvaro Amorim.

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Autor: Álvaro Amorim, em http://anunciodaverdade.blogspot.com