Continuando a série sobre o crepúsculo dos valores, veremos a seguir a doutrina que prega que o objetivo da vida humana é o bem-estar pessoal: a doutrina eudemonista.
Segundo o pensamento eudemonista, o homem deve afastar o sofrimento para alcançar a felicidade. Para ser feliz, o homem deveria experimentar somente a vivência constante de situações que lhe gerem bem-estar. Ser feliz, para o eudemonismo, é ter uma vida “boa”.
O eudemonismo assim assemelha-se muito ao hedonismo, mas há uma diferença: o hedonismo considera o prazer como o bem supremo, já o eudemonismo considera a “vida boa” como o bem máximo a se alcançar.
A “felicidade” eudemonista consiste na vivência diária daquilo que geraria bem-estar: sossego, prazer, tranquilidade, ausência de problemas e sofrimentos, harmonia interior.
Na verdade, podemos perceber, mais uma vez, o forte individualismo nesta doutrina, o que se contrapõe totalmente ao Evangelho e à moral cristã, que pregam que a felicidade consiste em dar a vida pelos outros (Deus e os irmãos), como Cristo fez.
Toda vez que retenho a vida, sou infeliz. Toda vez que a dou livremente, nas várias situações que me acontecem diariamente, sou feliz: “quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á” (Lc 9, 24).
O erro do eudemonismo consiste em considerar que o ser humano se basta para ser feliz e que a presença de sofrimentos afasta a felicidade.
Mas, eu pergunto: alguém na face desta terra está isento de ter problemas, dores ou sofrimentos ? Alguém está imune às consequências das limitações advindas do fato de sermos criaturas e não o Criador ? Alguma pessoa está livre das consequências do pecado original, das fraquezas humanas ?
A resposta a estas perguntas é óbvia: não!
E viver essas realidades de dor e sofrimento significa ser infeliz ? Não! Eu posso acolher o sofrimento, próprio da minha condição humana, e ser feliz.
Há mais de 3.000 anos atrás, um homem já havia descoberto o caminho da felicidade: a vida em Deus. Eis algumas afirmações suas:
· “[Deus] fez comigo aliança eterna, a ser observada com absoluta fidelidade. Minha salvação e inteira felicidade não é ele quem faz germinar ?” (II Sm 23, 5);
· “Dizem muitos: ‘Quem nos fará ver a felicidade ?’ Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz de vossa face. Pusestes em meu coração mais alegria do que quando abundam o trigo e o vinho. Apenas me deito, logo adormeço em paz, porque a segurança de meu repouso vem de vós só, Senhor.” (Sl 4, 7-9).
Este homem foi Davi, que pecou contra Deus (II Sm 11, 2-17) e se arrependeu (II Sm 12, 13), que enfrentou conflitos e guerras (II Sm 3, 1), que perdeu um filho (II Sm 12, 16-18), e que foi capaz de dizer: “Digo a Deus: Sois o meu Senhor, fora de vós não há felicidade para mim.” (Sl 15, 2).
Como diz a antiga canção: “Cristo é a felicidade”.
P.S.: No próximo post, o utilitarismo.
Shalom!
Álvaro Amorim.
Consagrado na Comunidade Católica Shalom.
Imagem: http://www.sxc.hu/photo/1158070
4 Comentários:
Boa tarde, Álvaro.
Muito interessante a abordagens destes temas que realmente distorcem a noção de valores humanos, principalmente, essa prática eudemonista que termina por ser uma fuga, de si mesmo, do homem que hoje é bombardeado por esse pensamento individualista e da necessidade de buscar tudo para si e, consequentemente, tendo que a toda hora buscar algo diferente que possa satisfazê-lo mais. Infelizmente muitos destes ainda não perceberam a nbecessidade de encontrar a eterna novidade que é Jesus Cristo.
Parabéns pelo artigo!
Shalom!
Querido Emanuel,
Você disse tudo: Muitos não perceberam a eterna novidade que é Jesus Cristo!
Anunciemos o Ressuscitado que passou pela cruz e colaboremos assim com a salvação de todos!
Shalom!
Álvaro Amorim.
Devemos ser submissos ao pecado original? entao pra que o sacrificio de Cristo, se não para nos resgatar disso mesmo? Não quero jogar fora aquilo que Deus me autorizou e persiste que eu tenha. Adão lançou fora, mas Cristo trouxe de volta em super abundancia. Isso é fé!
Caro(a) irmão(ã),
Herdamos as tendências do pecado original (as concupiscências), mas o pecado original foi apagado no nosso batismo, quando fomos espiritualmente mergulhados na paixão, morte e ressurreição de Cristo, o qual nos deu a vitória sobre o pecado.
A fé é precisamente viver nesta vitória alcançada por Cristo: seja na família, no trabalho, na escola, onde estivermos.
Deus o(a) abençoe sempre!
Álvaro Amorim.
Postar um comentário