Sendo a vida um dom de Deus, como vimos no artigo anterior, é fácil perceber que ela tem valor divino. E o homem e a mulher têm a dignidade de pessoa, não de coisa, pois o ser humano foi criado à imagem do seu Criador, e não à imagem de uma coisa.
Por isso, afirma a Igreja em seu Catecismo: [1]
357. Por ser à imagem de Deus, o indivíduo humano tem a dignidade de pessoa: ele não é apenas alguma coisa, mas alguém. É capaz de conhecer-se, de possuir-se e de doar-se livremente e entrar em comunhão com outras pessoas, e é chamado, por graça, a uma aliança com seu Criador, a oferecer-lhe uma resposta de fé e de amor que ninguém mais pode dar em seu lugar.
Esta dignidade foi bem expressa pelo Servo de Deus João Paulo II, em sua Carta Encíclica Evangelium Vitaæ[2], ao afirmar que:
“34. A vida é sempre um bem. Esta é uma intuição ou até um dado de experiência, cuja razão profunda o homem é chamado a compreender.
Por que motivo a vida é um bem ? Esta pergunta percorre a Bíblia inteira, encontrando já nas primeiras páginas uma resposta eficaz e admirável. A vida que Deus dá ao homem é diversa e original, se comparada com a de qualquer outra criatura viva, dado que ele, apesar de emparentado com o pó da terra (cf. Gn 2, 7; 3, 19; Jó 34, 15; Sl 103 (102), 14; 104 (103), 29), é, no mundo, manifestação de Deus, sinal da sua presença, vestígio da sua glória (cf. Gn 1, 26-27; Sl 8, 6). Isto mesmo quis sublinhar Santo Irineu de Leão, com a célebre definição: “A glória de Deus é o homem vivo”. Ao homem foi dada uma dignidade sublime, que tem as suas raízes na ligação íntima que o une ao seu Criador: no homem, brilha um reflexo da própria realidade de Deus.
A vida encontra seu valor na sua origem, em Deus. Sendo assim, “o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível [imperdível] que lhes vem diretamente de Deus, seu Criador”.”[3]
E Deus valoriza tanto a vida humana que “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens” (Fl 2, 7), quando “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14), na pessoa de seu Filho Jesus Cristo, para nos elevar, para de certo modo nos “divinizar”, ao morrer e ressuscitar por cada um de nós, inserindo-nos novamente no seio da Santíssima Trindade, nossa origem, nosso fim.
A partir de então, a vida humana, que já tinha seu valor por um dado de origem — ser dom de Deus-Criador —, assumiu um valor inestimável, incomensurável, imenso: o valor da vida do próprio Deus: Jesus Cristo, verdadeiro homem, verdadeiro Deus. Assim, a minha vida, a sua vida e a vida de qualquer pessoa têm um valor infinito: Jesus Cristo, Deus em meio a nós.
Maravilhou-se com esta verdade o grande Servo de Deus João Paulo II, na primeira encíclica que escreveu no seu pontificado, em 1979, a Carta Encíclica Redemptor Hominis[4], em seu parágrafo 10:
“Que grande valor deve ter o homem aos olhos do Criador, se ´mereceu ter um tal e tão grande Redentor’, se ‘Deus deu o seu Filho’, para que ele, o homem, ‘não pereça, mas tenha a vida eterna’.”
Este valor que tem o ser humano aos olhos de Deus abrange, obviamente, não apenas a alma humana (que é espiritual), mas também o corpo humano, conforme nos ensina a Mãe Igreja[5]:
364. O corpo do homem participa da dignidade da “imagem de Deus”: ele é corpo humano precisamente porque é animado pela alma espiritual, e é a pessoa humana inteira que está destinada a tornar-se, no Corpo de Cristo, o Templo do Espírito:
Unidade de corpo e alma, o homem, por sua própria condição corporal, sintetiza em si os elementos do mundo material, que nele assim atinge sua plenitude e apresenta livremente ao Criador uma voz de louvor. Não é, portanto, lícito ao homem desprezar a vida corporal; ao contrário, deve estimar e honrar seu corpo, porque criado por Deus e destinado à ressurreição no último dia.
Shalom!
Álvaro Amorim.
Consagrado na Comunidade Católica Shalom.
[1] Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 357, Edição Típica Vaticana, Edições Loyola, São Paulo, 2000, p. 103
[2]www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_25031995_evangelium-vitae_po.html
[3] Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 369, Edição Típica Vaticana, Edições Loyola, São Paulo, 2000, p. 106
[4] www.vatican.va/edocs/POR0061/__PB.HTM
[5] Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 364, Edição Típica Vaticana, Ed. Loyola, São Paulo, 2000, p. 105
Imagem: http://www.sxc.hu/photo/911203
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