Codependência afetiva: uma ameaça à amizade do casal


Um dos fenômenos que mais afligem os relacionamentos é a codependência afetiva. Muitas pessoas são afetivamente codependentes e desconhecem isto. Vivem seus relacionamentos em meio a brigas, sentimentos de culpa, chantagens sentimentais, mas não conseguem enxergar a raiz desse problema, a fim de buscar uma solução.


Hoje veremos um pouco as características da codependência afetiva, sobretudo no âmbito do relacionamento afetivo homem-mulher, seja no namoro, noivado ou matrimônio, mas com ênfase maior a este último.


É próprio do relacionamento afetivo entre um homem e uma mulher o fato de ambos se quererem, desejarem-se, terem a vontade de estar próximos, mas, quando se vive uma codependência afetiva, esta vontade passa a construir para o outro e para si uma verdadeira prisão, da qual não se quer nem se deixa escapar. Esta é uma das principais consequências da codependência afetiva, a qual é na verdade uma desordem compulsiva que deforma o relacionamento, fazendo dele um "lugar" de controle e dominação. Ao invés do casal crescer na amizade, tão necessária a um relacionamento maduro e equilibrado, ambos definham pela concupiscência do poder, que escraviza, que anula o outro. Dentro da relação, há força e fraqueza, agressividade e dependência.


Todavia, não podemos dizer que, em uma relação onde há codependência afetiva, uma pessoa seja exclusivamente "o fraco" (dependente) e o outro, "o forte" (agressivo), mas há sem dúvida aquela pessoa que tende mais a dominar e aquela que tende mais a se deixar dominar.


Vários são os motivos da codependência afetiva, como predisposições genéticas, fatores familiares e realidades espirituais. Todos eles geram carências e inseguranças, campo fértil para a codependência afetiva.


Eis dez características das personalidades dependente ("a fraca") e agressiva ("a forte") na codependência afetiva:


A personalidade dependente




  • Não assume as responsabilidades próprias do relacionamento (seja no namoro, no noivado ou no matrimônio), esperando sempre do outro a resolução de quaisquer problemas, a tomada de iniciativas e decisões.

  • Apresenta uma enorme necessidade de aprovação e afeição por parte dos outros, o que faz o dependente buscar sempre agradá-los, não discordar de seus pontos-de-vista, sobretudo se estes são postos de maneira forte pela parte agressiva da relação.

  • Não consegue enfrentar crises sem requerer extremo cuidado por parte da pessoa de personalidade agressiva ("o forte"), atribuindo ao outro a culpa e a responsabilidade pela solução da crise.

  • Requer sempre da outra pessoa elogios, "aplausos", concordância, porque não consegue "andar" sem essas "bengalas".

  • Pauta o vestir, o falar, o comportar-se pela opinião do outro. Às vezes requer a opinião da outra parte inclusive em temas banais, como a escolha de roupas para usar em determinadas ocasiões.

  • Muda de humor se a outra parte também alterou seu humor. Pensa logo que a outra pessoa tem algo contrário a si, que não gostou de algo que ele(ela) fez ou disse. Não admite que a outra pessoa possa estar num dia ruim, cansativo.

  • Tem dificuldades para dizer não a pedidos da parte agressiva, para jamais contrariá-lo(a), mesmo que isto interfira na sua vida profissional, espiritual.

  • Permite que seu valor seja dado pelo que a outra pessoa pensa. Não consegue ver seu valor por si mesmo(a).

  • Sufoca afetivamente a outra pessoa com uma presença constante em sua vida, acompanhando todos os seus passos, vivendo em função dele(a).

  • Quando percebe que a outra pessoa, de alguma maneira, quer "respirar", inicia uma verdadeira "campanha" de chantagens sentimentais para que o(a) outro(a) jamais se afaste, para que ele(a) continue dando-lhe excessivo cuidado e extrema atenção.


A personalidade agressiva

  • Centraliza-se em si mesmo(a), possuindo uma vontade própria exacerbada, não cedendo em nada na relação.

  • Assume todas as responsabilidades do relacionamento (seja no namoro, no noivado ou no matrimônio), resolvendo quaisquer problemas, tomando iniciativas e decisões.

  • Dificilmente, na relação, a vontade da outra parte prevalece, pois sua vontade (a da pessoa agressiva), mesmo quando não é imposta, é sutilmente apresentada como a melhor, sempre!

  • Não respeita os próprios limites, praticamente nunca dizendo não a pedidos dos outros, pois considera-se "o(a) forte", mesmo que chegue a se esgotar física, psíquica e espiritualmente.

  • Dita o vestir e o comportar-se do outro, sempre convencendo-o(a) de que assim é melhor para ele(a).

  • Como se coloca numa posição de ser responsável por tudo e por todos, sente-se extremamente culpado(a) por qualquer problema que ocorra, mesmo sabendo que não foi sua ação que causou isso.

  • É extremamente desconfiado(a) em relação aos outros, porque não admite erros, e acha que os outros erram demais, mas ele(a) nunca erra!

  • Quando chega ao ápice do estresse, "explode", permite-se distribuir farpas para todos, porque se acha sempre "o(a) correto(a) e justo(a)".

  • Quando começa, por algum motivo, a querer "respirar" na relação, sente-se culpado(a) por achar que está abandonando a pessoa dependente ("a fraca"), o que, mais uma vez, escraviza-o(a) no relacionamento.

  • Reclama sempre que a outra pessoa não tem iniciativa em nada, mas nunca deixa o menor espaço sequer para que o outro faça alguma coisa. Sempre toma a frente, nunca sabe esperar, nunca confia no potencial do(a) outro(a). Aliás, justifica o estar sempre à frente por causa da "fraqueza" do(a) outro(a).


Obviamente, podemos perceber algumas características diferentes, de acordo com cada casal, mas, em geral, as acima listadas aparecem, em sua grande maioria, naqueles que vivem uma codependência afetiva.

Outro aspecto importante: De início, o relacionamento entre uma pessoa dependente e uma agressiva parece constituir o "par perfeito", pois um tem o que o outro "precisa", mas, com o tempo, surgem sentimentos de raiva e frustração, o que pode arruinar a relação, se a codependência não for tratada psíquica e espiritualmente. Quando se começa a perceber tais sentimentos, é sinal também que se quer libertar-se, ótima oportunidade para tornar a relação verdadeiramente sadia.

Como os codependentes afetivos encontram-se numa "prisão" psíquica e espiritual, necessitam buscar ajuda, de preferência através da Logoterapia*, e de acompanhamentos espirituais por sacerdotes que compreendam o tema ou por leigos de Novas Comunidades acostumados a acompanhar estes casos.

Por fim, quem vive no matrimônio a realidade da codependência afetiva pode encontrar nesta situação uma ótima oportunidade para amar o outro e buscar, juntos, a libertação, que só Cristo opera, sem desistir da pessoa a quem prometeu amar na saúde e na doença. Pode também fazer da I Cor 13, 4-8a seu texto de cabeceira, meditando sobre aquilo em que consiste o único e verdadeiro amor.

Shalom!

Álvaro Amorim.

Consagrado na Comunidade Católica Shalom.

*"única teoria psicológica compatível com a doutrina católica" (cf. As Bênçãos Papais para Viktor Frankl, in Cultura e Fé. Porto Alegre. Ano 30, n. 117, abr/jun 2007, pp. 49-56)


Imagem: http://www.sxc.hu/photo/1202718


 

9 Comentários:

Lucas comentou:

Parabés Álvaro, mais um post importantíssimo. Sempre repasso para meu grupo para eles lerem. Deus Abençoe, Shalom!

Álvaro Amorim comentou:

Querido Lucas,
Repassando para o seu grupo, fazemos uma parceria na evangelização! Deus o abençoe sempre!
Shalom!
Álvaro Amorim.

Letícia comentou:

Meu Irmão,

Quanta inspiração, que benção!
Mas digo pra você, em especial pra mim, esse texto foi a "confirmação", foi a cereja do bolo entende?! Simplesmente divido esse texto Álvaro!
vou ler sobre a Logoterapia.

Obrigada Sempre, e que Deus abençõe a você e a Sabryna, ô santa e ungida com a graça de Deus!

Shalom!!!

Álvaro Amorim comentou:

Querida Letícia,
Que bom que Deus fez uma obra de Verdade na sua vida!
Continue mergulhando no Amor de Deus!
Shalom!
Álvaro Amorim.

paulo sérgio comentou:

caro Álvaro,
em 2010 muitas coisas mudaram em minha vida:
deixei de tomar coca-cola;
passei a participar das missas às quinta-feiras, no Shalom;
comecei a ouvir a rádio Shalom e Dom Bosco enquanto trabalho;
conheci a rádio Shalom;
recebi uma mensagem de Deus, por meio de Moisés no RENASCER, na manhâ de Adoração ao Santíssimo;
conheci algumas pessoas da Obra, incluindo Pereira, você;
e, logicamente voltei-me para Deus, que, com sua imensa misericórdia, me acolheu.
obrigado por tudo, meus irmãos.

Álvaro Amorim comentou:

Querido Paulo Sérgio,
Como é bom ver que você está deixando-se conduzir pelo Espírito Santo: é um novo homem!
Shalom!
Álvaro Amorim.

Michele de Andrade Oliveira comentou:

Olá Álvaro Amorim,
Prazer, sou aluna de teologia em SP, e minhas pesquisas são baseadas em cima deste tema tão necessário! Co-dependencia, um assunto que acredito, será fundamental para muitas curas, sejam elas físicas, psicológicas e emocionais.

Seria grata se caso pudesse me enviar por este e-mail mais informações..
Shalom
Um abraço

Álvaro Amorim comentou:

Querida Michele,
Como é bom ver estudantes de Teologia com uma visão integral do ser humano!
Que o Espírito Santo continue ungindo você!
Shalom!
Álvaro Amorim.
Consagrado na Comunidade Católica Shalom.

Álvaro Amorim comentou:

Querido Miguel,
Divulgue o blog, evangelize!
Shalom!
Álvaro Amorim.
Consagrado na Comunidade Católica Shalom.

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